domingo, 17 de maio de 2009

O que falta para o Ubuntu deslanchar?

Bem, para muitos essa questão tá errada, pois, para eles, o Ubuntu já deslanchou. Do ponto de vista do Pinguim com certeza, mas do ponto de vista de mercado, ainda há muito o que fazer. Abaixo segue uma lista de coisas que, acredito, devam melhorar no mundo Linux, em particular no Ubuntu, para que ele deslanche de uma vez.
  1. Propaganda mais agressiva: nesta semana, a Veja está com uma matéria de capa falando sobre os hábitos (infelizes) dos brasileiros na Internet, bem como de sua base instalada de programas e, com eles, um bocado de roubadores de senha, vírus e companhia. Como sabemos, o Linux é bem menos vulnerável a essas práticas e, como o usuário do Linux acaba tendo que aprender um pouco mais que o zero costumeiro dos usuários do Windows, segue-se que o conjunto usuário + sistema é excelente em temos de segurança. A comunidade Linux deveria ser mais incisiva quanto a isso e a propaganda deveria ser mais agressiva quanto a vulnerabilidade do outro sistema. E sem essa que o Linux não tem essas pragas por causa de sua baixa popularidade. É claro que aumentaria o número de casos, mas em termos percentuais, continuaria como está hoje, talvez com um leve aumento e não mais que isso, bem diferente do Windows que, sabe-se é 100% vulnerável desde a sua instalação e o usuário deve correr à frente dos invasores para colocar um mínimo de segurança em seu PC, se não acaba ficando atrás e, literalmente, refém deles.

  2. Um DVD descente: o que quero dizer com isso? Que o Ubuntu deve deixar de lado essa de colocar um sistema inteiro em apenas um CD e o seu DVD ser um mero ajuntamento das diversas versões (dos diversos CDs existentes) em uma única mídia com um pouco mais de pacotes de idiomas (tradução e regionalização). Devemos ter um DVD que deixe o sistema pronto mesmo: com os pacotes multimídia lá, java, flash etc. e, também igualmente importante, os arquivos de documentação. Não tem jeito, o mundo ainda não é open source e, por isso, esses formatos proprietários ainda são necessários. Num mundo em que os pen drives estão na casa dos GiB e praticamente todos os computadores atuais saem de fábrica com um leitor de DVD, está meio sem sentido essa política. Mas tem o pessoal da África, podem argumentar alguns, mas até eles acabam usando o Ubuntu em DVD mesmo, porque tem que fazer a instalação do pacote de idioma e, como a gente sabe, a maioria lá não tem acesso a Internet. Realidade igual no Brasil que, apesar de ter um bom percentual de pessoas com acesso a Internet, sabe-se que boa parte desse acesso é no ambiente de trabalho, em cafés ou pontos públicos, ou via internet discada: simplesmente não dá para baixar 700MiB de pacotes novos via internet discada! A propósito, no Brasil é possível você distribuir tudo (até mesmo o w32codecs) sem problemas legais.

  3. Comunidade preparada para receber 1, 2, 5, 10 milhões de usuários: a verdade é essa, não temos uma comunidade preparada para receber um número tão grande de usuários. Se todos os usuários atuais do Ubuntu fizessem parte da lista de discussão "oficial", já não faríamos outra coisa no dia que não apagar (nem mesmo ler) mensagens de e-mail dessa lista. Hoje a lista tá um volume e tanto e só temos cadastrados uma parte pequena dos usuários do sistema. Ou seja, necessitamos nos organizar, empresas devem nascer para dar suporte, escolas devem começar a usar e ensinar os alunos etc. Sem esse suporte na esquina, fica difícil: a maioria dos usuários Windows o são simplesmente porque é fácil e barato encontrar "alguém" que por uns trocados (quando não faz de graça mesmo, pela amizade) instala o sistema em qualquer PC. Tudo bem se é pirata, esse detalhe aqui no Brasil é quase irrelevante.

  4. Venda casada de computadores: talvez seja a prática mais comum no mundo da informática, talvez tão comum que as pessoas nem se tocam que se trata de venda casada, o que é proibido pelo código de defesa do consumidor mas que, por hora, até mesmo o Ministério Público faz ouvidos de mercador e nem liga. Já cheguei a mandar e-mails para eles denunciando um site que estava vendendo PC com Linux e, juntamente, vinha uma cópia de "testes" do Microsoft Office. Isso mesmo, caro leitor, vinha o MsO junto com o PC novo, cujo SO era Linux. Bem, não deram nem resposta. Pois bem, para o Ubuntu deslanchar mesmo, não tem que ficar mendigando que 0,1% de computadores da Dell saiam com o sistema. No Brasil tem alcançar mesmo é o número dos milhares de "montadores" pequenos e médios que estão fazendo a farra com uma quantidade absurda de distribuições Linux que nem ao menos funcionam direito (às vezes nem entra o X) no computador. O Ubuntu se fazendo presente nestas empresas e com o sistema rodando bonito haverá menos rejeição do usuário final e, principalmente, não teria motivos muito plausíveis para mudar de SO. Sabemos que o Ubuntu consegue um percentual enorme de compatibilidade com os hardwares mais comuns no Brasil, mesmo considerando os Winmodens e as Wincams espealhados por aí. Então a Canonical deveria sim fazer essa venda casada: nada de instalação, sistema seguro, sistema rodando com tudo que o usuário tá precisando, compatibilidade com os formatos de arquivos mais comuns, java rodando, flash embutido no navegador ok e boa compatibilidade com o hadware. Aí é só correr pro abraço.

  5. Uma documentação descente: apesar dos esforços da comunidade, ainda é precária a documentação do sistema. Não é que falte, mas ela está dispersa. Sem a agregação certa fica difícil fazer as coisas. Por exemplo: a ajuda do OpenOffice.org até que é boa, mas basicamente ensina teclas de atalho, o significado de um ou outro termo numa caixa de diálogo, quais as opções mais relevantes de um combo-box etc. Mas o principal para eles que é como usar o conjunto dos aplicativos para fazer as coisas da maneira certa, isso não tá lá. Tudo bem, pode-se comprar livros sobre o OpenOffice que ajudam, mas nem todos podem comprar e/ou nem todos tem o tempo necessário para ler e aprender com os livros. Lembro-me que a primeira versão do Word para Windows, o Word 2.0, vinha com um sistema de ajuda simples (sem as firulas que eles tem hoje), mas recheado de dicas para se ganhar produtividade com o Word. Ensinava desde o conceito de um parágrafo e caractere para o sistema e daí os motivos de se ter formatações tanto para parágrafos quanto para caracteres. Falta isso para o mundo open source em geral e para o Ubuntu em particular. Alguns podem se lembrar dos How-Tos por aí, mas uma vez mais, assume-se que a pessoa tenha acesso a Internet e que tenha tempo de procurar por um monte de lugares diferentes a resposta que está querendo (falta agregação). Aquela de se ter a primeira página do FF em português é 10, mas os links levam para o sítio da comunidade em inglês, isso é zero. Outra coisa é você abrir o Gimp, por exemplo mas poderia ser qualquer aplicativo, teclar F1 e aparecer uma mensagem dizendo que esta característica não está instalada no sistema. É dose. Porque raios os pacotes de documentação não vem junto com os programas? Ahhh, mas tudo tem que caber em um CD somente, aí não dá para colocar os programas e mais a documentação. Então partamos para um DVD, ora pois (vide a discussão acima).

  6. Brigar pela diminuição da pirataria: essa sim é uma briga boa. Se todas as pessoas que usam computador ao menos soubessem que estão cometendo um crime quando instalam um programa sem a devida nota fiscal ou, o que é pior, recbem um computador com diversos programas já instalados sem o devido "agreement" (o contrato de licença do software) então já teríamos um meio caminho andado para a proliferação do software livre, isso porque, o que as pessoas inicialmente vão olhar, não tenham dúvidas, é o tamanho da conta. No Brasil a pirataria corre solta simplesmente porque não temos dinheiro sobrando para comprar o software. Neste caso, o software livre acaba ajudando, porque boa parte dele é igualmente grátis.

  7. Vamos aproveitar que estamos no Brasil e podemos fazer isso: essa talvez seja a melhor das coisas que poderia acontecer com o Ubuntu. Se o Brasil, emergente que cresce internacionalmente, passasse a ser o carro-chefe, os outros países da África e Ásia acabariam por utilizar o sistema. Digo que devemos aproveitar que estamos no Brasil porque aqui software não tem patente, e sim, direito autoral. Ora, se o w32codecs e libdvdcss2 (talvez os pacotes mais problemáticos em termos de patentes nos EUA), foram todos escritos a partir do zero pela comunidade e tem uma licença GPL, então no Brasil podem ser distribuídos livremente, respeitando o direito autoral (no caso a comunidade GNU) dentro do DVD do Ubuntu.

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